domingo, 26 de fevereiro de 2017

Porque, afinal, ninguém tem culpa se a tristeza é tão ruim, ninguém é culpado e nem precisa ser conivente de uma dor tão horrível e sem cor.

"Nós somos orgulhosos da essência aos pés, da alma ao exterior, do que acabou ao que se perdurou. Porque nós somos tolos o bastante para não sermos coniventes com o que causamos. Porque tirar o nosso da reta é fundamental, afinal, a tristeza vai ser menor, a dor será um pouco mais rala, a saudade não vai bater tanto, e o amor? Ah, esse morre, esse é o culpado. Porque a gente nega e foge da tristeza mesmo no inconsciente, mesmo no desconhecido, mesmo no silêncio, mesmo no que não foi descoberto. Porque aceitar o que houve é duro demais, é tortura demais, é loucura demais, é inalcançável. Porque se entregar à derrota é fraqueza demais, é covardia demais, é triste demais. Porque admitir que errou é estúpido demais, podem não descobrir, mas colocar tudo debaixo do tapete é mais fácil do que deixar ser. Porque dar o braço a torcer é menos provável do que ser verdadeiro consigo mesmo. Porque, afinal, ninguém tem culpa se a tristeza é tão ruim, ninguém é culpado e nem precisa ser conivente de uma dor tão horrível e sem cor. Porque, mesmo inconscientes, a culpa nunca é nossa. É sempre do amor! Porque se entregar à realidade é mais doloroso do que viver numa bolha repleta de certeza e ignorância. Mas a culpa não é nossa por ser assim, é da vida! Porque construir uma barreira é mais fácil do que construir uma relação nova, um amor novo, uma chance nova, uma permissão de viver de novo. Porque investir no certo é mais difícil, é mais sufocante. E eu não sei se existe gente oposta a essa ideia, mas se existe, benditos são. Benditos são os que conseguem levar a vida com leveza o suficiente e aceitar que não deu certo porque são coisas da vida. Que o amor não se perdurou porque também acontece, e que logo logo terá outro de novo. Benditos são os que conseguem uma vida plena e calma sem muito esforço ou preocupação, que não colocam peso nos outros e carregam consigo mesmo o peso da própria existência. Benditos são os sozinhos e os reprimidos felizes, que encontram uma brecha mesmo sem uma luz para dar sinal. Benditos são os que têm tristeza, mas que, mesmo assim, são felizes o suficientes para nos alegrar também. Benditos são os que nos fazem esquecer da realidade e imaginar um sonho tão bom, mas tão bom, que dá vontade de viver de novo, de novo e de novo. Benditos são os que veem alegria por onde passam e por toda a trajetória mundana. Benditos são os que conseguem ser tão e somente leves e suaves como uma pena. Benditos são os que vivem de acordo, e que no final, morrem porque sabem que viveram bem o bastante e que fizeram a sua parte no decorrer da vida. Que passaram momentos bons, ruins e de loucura. Benditos são os que não precisam se apoiar em ninguém, colocar a culpa no outro, no amor, em qualquer coisa que não tenha direito a resposta ou a julgamento. Bendito são os que aceitam o que a vida lhe impôs, e vive a tristeza, e aceita o poço, e vive na fossa, e ainda assim, consegue tirar um pouco de nobreza e felicidade. Benditos são os que vivem não tão corretamente assim, mas vivem com um ar de flor, de simplicidade, de necessário. Benditos são os que aceitam a morte como algo determinado, óbvio, mas que vivem o luto de perder alguém nesse mundo mais ou menos. Benditos são os que voam sem asa, mas que voltam ao chão porque sabem que não tem lugar melhor do que o abraço de quem se ama. Porque o amor é só um sentimento, livre de julgamento ou condenação. Porque o amor é pra ser sentido, não banido ou executado. Porque o que acontece em nossas vidas é tão e, somente, consequências das nossas próprias atitudes humanas - algumas nem tão humanas assim. Ninguém precisa ser conivente com o meu jogo de ideias, mas a culpa não é minha. É toda sua!"
— Alugue Felicidade.